16 de agosto de 2006

Curiosidades: Francisco Barreto Leme – Suas orígens

Francisco Barreto Leme

A família de Francisco Barreto Leme era originária dos Lems, naturais de Bruges, na Bélgica e algumas outras cidades da Holanda.

O fundador dessa dinastia foi Martim Lems, um rico negociante que se mudou para Lisboa e trocou o sobrenome para Leme. Os demais descendentes de Martim Lems foram para a Ilha da Madeira, de onde saíram com o intuito de ajudar a povoar o Brasil à partir de São Vicente, no litoral paulista.

Nessa época, os engenhos de cana-de-açúcar impulsionavam a economia e como não podia deixar de ser, os Lemes participaram na construção dos primeiros engenhos no país. O curioso é que o famoso bandeirante Fernão Dias Paes Leme, também é um parente da família Leme, assim como Pedro Álvares Cabral.

Todos os antecedentes de Francisco Barreto Leme compõe o panorama rico e, ao mesmo tempo, complexo do processo de fundação de Campinas o que fortalece a própria identidade da cidade.

Entenda o caso:

Um filho de Martim Leme, batizado com o mesmo nome do pai, ficou conhecido por Martim Leme I. Quando foi morar em Lisboa em 1452, tornou-se rapidamente um influente senhor de negócios na capital portuguesa na área de cortiça, seguindo os rastros do pai.

Definitivamente estabelecidos em Portugal, dois filhos de Martim Leme I, Martim Leme II e Antônio Leme desempenhariam papel central na conquista de Tânger e Arzila, no norte da África, em 1471, representando a coroa portuguesa, sendo nomeados cavaleiros Flamengos a serviço do rei Afonso V.

Martim Leme II decidiu voltar para Bruges, na Bélgica e lá ocupou altos cargos locais e, depois se tornaria um dos nomes mais cogitados da política, das finanças e do militarismo dos países baixos.

António Leme, irmão de Martim Leme II, se estabeleceu em Funchal, na Ilha de Madeira, local em que se iniciou a expansão ultramarina portuguesa nos séculos XV e XVI. De acordo com os historiadores que estudam a expansão portuguesa, António Leme teria sido colaborador de Cristóvão Colombo. O descobridor oficial da América viveu por muito tempo na Ilha da Madeira, onde casou-se com uma filha de João Gonçalves Zarco, o descobridor das Ilhas, em 1419.

Em Madeira, Antônio Leme se casou com Catarina de Barros, filha de uma tradicional família local.

António Leme fundou a Quinta dos Lemes, na Freguesia de Santo Antônio dos Campos.

Dois filhos de Antônio Martim Leme III participaram em 1509 de uma expedição pela tomada de Azamor, no norte da África. Martim Leme III era casado com Maria Adão Ferreira que foi a primeira criança batizada na Ilha da Madeira. O nome Adão foi escolhido propositadamente. Quando a Ilha da Madeira foi descoberta era considerado um verdadeiro paraíso perdido pelos ultra-católicos europeus da época.

Outro filho de Antônio Leme, Antônio Leme II, migrou para o Brasil e em 1544 era juiz ordinário do Conselho Municipal de São Vicente, cargo hoje equivalente ao de presidente da Câmara Municipal. Então, Antônio Leme III iniciou o clã da família Leme no Brasil. Seu filho, Pedro Leme, se casou três vezes e seus descendentes estiveram entre os pioneiros da introdução da cana-de-açúcar no Brasil, mais especificamente em São Vicente, litoral paulista.
A cana veio com Martim Afonso de Sousa, da Ilha da Madeira, que foi o local de ensaio para Portugal experimentar novas formas de cultivo que, mais tarde, seriam introduzidas para as suas colônias.

A família Leme se associou a outros empresários e junto com eles, ficou sendo proprietária do Engenho São Jorge dos Erasmos.

Ainda no Brasil, alguns dos Lemes participaram de entradas para a captura de índios que seriam utilizados como escravos nos engenho e outras atividades. O próprio Pedro Leme participou de uma entrada comandada por Jerônimo Leitão e que fez incursões nos territórios dos Carijós, em Santa Catarina.

Uma neta de Pedro Leme, Lucrécia Leme, teve sete filhos com seu primo, Fernando Dias Paes, que tinha uma fazenda na região do Rio Pinheiros, em São Paulo. Um dos filhos do casal foi Fernão Dias Paes Leme, o Bandeirante que ficou conhecido como "caçador de esmeradas e índios".

Os Lemes em Mato Grosso (Campinas)

Um irmão de Lucrécia Leme, Braz Esteves Leme, fez fortuna explorando uma mina de ouro e viveu com várias mulheres índias, com quem teve 14 filhos mamelucos. Outro irmão de Lucrécia, também de nome Pedro Leme, foi o bisavô de Francisco Barreto Leme.

Pedro Leme foi o pai de Mateus Leme do Prado, que viveu em São Vicente e depois se estabeleceu no vale do Paraíba. Em Caçapava, na época, pertencente à Taubaté, que Pedro Leme do Prado se casou com Francisca de Arruda Cabral, com quem gerou Francisco de Barreto Leme, nascido em 1704.

Quando Barreto Leme chegou à Campinas em 1740 para tomar posse de uma sesmaria, o mais recente descendente dos Leme carregava três séculos de serviços prestados à Coroa Portuguesa através da expansão.

Daí em diante, o bairro rural de Campinas do Mato Grosso se tornaria o principal pólo açucareiro de São Paulo. A cultura herdada pelos Lemes em São Vicente começou a fincar suas raízes no enorme bairro rodeado por florestas utilizando mão-de-obra indígena e escrava.

O que Pedro Álvares Cabral tem haver com o clã dos Leme?

A mãe de Barreto Leme, Francisca de Arruda Cabral é neta do capitão Manuel da Costa Cabral, descendente da família que se estabeleceu na Ilha da Madeira.

O trisavô de Pedro Álvares era Álvaro Gil Cabral, um dos fiéis escudeiros do rei na batalha de Aljubarrota, em 1385, e responsável pela proteção do castelo de Belo Monte ou Belmonte, uma suntuosa edificação iniciada pelo rei Dom Diniz, mas que demorou anos para ser concluída. Em função dessas ações de Álvaro Gil Cabral que ele acabou se tornando o governador de Belmonte.

Um filho de Álvaro Gil e bisavô de Pedro Álvares, Luís Alvares Cabral, também lutou em Aljubarrota e foi escudeiro do rei Dom João I e fiscal de finanças da casa do Infante Dom Henrique, ao lado do qual participou da tomada de Celta, em 1415.

Filho de Luis Álvares, Fernão Álvares Cabral, foi considerado um dos heróis da tomada de Celta, no Marrocos, tornando-se guarda-mor do Infante Dom Henrique e teve dois filhos, Diogo e Fernão. Diogo Cabral foi morar em Madeira, onde casou-se com Beatriz Gonçalves da Câmara, filha de João Gonçalves Zarco, o descobridor da Ilha, em 1419, e responsável pela construção da igreja de Santa Maria da Estrela, uma das mais belas capelas da Ilha da Madeira, na vila de Calheta.

O irmão de Diogo, o segundo Senhor Fernão Álvares Cabral, era o senhor de Belmonte, se casou com Isabel Gouveia de uma das famílias mais ricas de Portugal e tiveram sete filhos. O segundo filho era Pedro Álvares Cabral, que também se casaria com uma mulher rica, Isabel de Castro.

O capitão Manuel da Costa Cabral, bisavô de Francisco Barreto Leme, era descendente do ramo dos Cabral que se estabeleceu em Madeira e outras Ilhas descobertas por Portugal na Costa da África. Ao fundar Campinas, por determinação de Morgado de Mateus, Barreto Leme seguia assim a tradição da família Cabral, de ser também, ao lado dos Leme, uma das principais protagonistas da expansão portuguesa nos séculos XV e XVI.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Colega João Marcos,

Estou montando um blog da minha família SILVA LEMES, um tronco dos SILVA LEME paulista que veio para o Sul de Minas (Cambuquira,Campanha, e cidades vizinhas).
Gostaria de saber se, por acaso, você tem mais informações sobre a família e onde poderei encontrar dados sobre o patriarca paulista que veio para cá, JOSE FURRIEL DA SILVA LEME, que teria uma origem remota em Mogi das Cruzes.
Obrigado,
Gilberto da Silva Lemes
(Na internet uso o nome Gilberto Lems)
gilbertolems@oi.com.br

Anônimo disse...

Prezado,


muito interessante e esclarecedora sua explanação. Gostaria de saber se o Sr teria dados sobre o sobre nome "Leme da Costa", pois estou pesquisando para meu namorado o sobrenome herdado por parte de pai.
Tenho minha árvore genealogica desde a vinda da Italia se acaso tiver interesse entre em contato: angelpiai@yahoo.com.br

Abb
Maria Angela Piai