12 de outubro de 2006

Personagem: Francisco Glicério de Cerqueira Leite

Francisco Glicério de Cerqueira Leite, nasceu em Campinas a 15 de agosto de 1849.

Com a morte do pai, em 1861, ele não ingressa na Faculdade de Direito, ao contrário de seu irmão mais velho Jorge Miranda. Trabalha como tipógrafo, professor de primeiras letras e escrevente de cartório, até obter o título de advogado provisionado, quando começa a prosperar. Ingressou no Clube Radical de São Paulo em 1867 e no Clube Republicano de Campinas em 1872.

Republicano e abolicionista, Francisco Glicério foi o companheiro de Quintino Bocaiúva, Benjamin Constant e Ruy Barbosa, na jornada de quinze de novembro de 1889. Campos Salles estava em São Paulo, donde só deveria chegar no dia 17. Curiosa e difícil de apreender a figura de Glicério. Rábula em Campinas, foi sempre o cabo dos cabos eleitorais, a maior força das urnas em seu Estado.

Campinas era a meca da República. Ninho de Estadistas, ali moravam, ou lá se reuniam, os grandes personagens da futura república. Mas nem Prudente de Moraes, com a sua austeridade, nem Bernadino de Campos, com sua audácia dinâmica, nem Campos Salles, com sua eloquência enfática, atrás da qual avia contudo, um grande senso das realidades, nem Jorge de Miranda, com o seu desapego às posições, que lhe dava entre os companheiros de propaganda republicana a limpidez de um diamante que desenha um engaste, nenhum deles pode jamais competir em popularidade, ante o povo, e em eficiência antes os companheiros, com o modesto leguleio do foro campineiro.

Ao tempo da propaganda Republicana era Glicério a grande figura de São Paulo. Outros os excederiam sob vários aspectos, nem ninguém se lembraria de negá-lo. Mas, pelo conjunto de autoridade que só ele era capaz de consertar nas mãos, pelas rivalidades pessoais que delia, pela multiplicidade de amigos que aproximava, Glicério era a encarnação visível do partido Republicano Paulista. Vivendo para os outros, Glicério nunca soube viver para si. Escolhendo o fazer-se amar, qualidade negativa nas democracias, nunca soube fazer-se temer, talismã de vitória nos regimes populares. Paupérrimo sempre, da advocacia com que procurava ganhar o pão, o interdito proibitório contra qualquer aspiração. E o mais esforçado, o mais prestigioso, o mais eficaz dos propagandistas de São Paulo, teve de morrer com esta mágoa: nunca se lembraram dele para exercer o governo em sua terra.

Em 1888, quando agravava-se o estado de saúde de Dom Pedro II, que estava na Europa, Francisco Glicério leu, num comício em Campinas um manifesto do Diretório de São Paulo, propondo que no caso da morte do imperador, o povo fosse convocado para dizer se queria o 3° Reinado, com a Princesa Isabel, ou um novo regime, repetindo o que já fizera a câmara Municipal de São Borja.

Francisco Glicério, um dos convencionais de Itú, chegara a conclusão que a Monarquia só cairia pela união de forças dos republicanos e dos militares, atitude essa que Quintino Bocaiuva discordava, por achar ser isso precipitação.

Em 1° de fevereiro de 1890, Francisco Glicério foi convidado pelo governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca, para ocupar a pasta da agricultura. Gozando da estima pessoal de Floriano Peixoto, auto-didata inteligente, sagaz, maneiroso, paciente, que soubera abrir brilhantemente o próprio caminho, num meio de plutocratas rurais, como era São Paulo, Francisco Glicério tinha as virtudes precisas para dirigir, entre mil escolhos diários, a espécie de caravançará partidário que construíra.

Glicério era o “general das Brigadas” (a representação parlamentar dos vinte Estados e do Distrito Federal), justificando, assim, pela primeira vez, os bordados de general honorário, que Governo Provisório lhe concedera, como aos seus outros ministros.

.............Foto de quando Ministro da Agricultura em 1901


Como Ministro da Agricultura, Glicério opos-se á concessão de garantias de juros para a construção do Porto das Torres, solicitada por um amigo íntimo de Deodoro. Como o Marechal insistisse, o Ministro pediu demissão, que não foi aceita.

O prestígio eleitoral de Glicério era tão forte, que em agosto de 1888, em pleno regime monárquico, o seu nome foi apresentado pelo Partido Republicano á uma vaga no senado, logrando a maior votação, ou seja, o dobro do seu opositor, não sendo porém o sido escolhido pelo seu Imperador.

Quando, em 1897 explodiu a revolta da Escola Militar do Rio de Janeiro, cujos os cadetes navegavam-se a entregar as armas e munições ali guardadas, que seriam enviadas ao Rio Grande do Sul, onde se anunciavam novos movimentos dos Federalistas, J. J. Seabra propôs na Câmara dos Deputados a formação de uma Comissão para se congratular com Prudente de Moraes. Glicério foi contra a proposta, que foi derrotada por 86 x 60 votos. Glicério, líder do Governo, dissera que se opunha à moção porque a Escola Militar era o reduto das glórias republicanas. Prudente rompeu com Glicério. Artur Rios renunciou à presidência da Câmara dos Deputados. Glicério reuniu seus companheiros para a escolha do próximo candidato à Presidência da República, tendo sido escolhido o Lauro Sodré, que disputou com Quintino Bocaiuva e Julio de Castilhos.

Glicério era homem de grandes horizontes, e preocupado com o ensino – ele nunca pisara numa escola, deu valioso apoio a miss Browe, que propunha a formação de uma Escola Modelo, ponto de partida para a reforma do ensino, até então em moldes arcaícos. Essa escola foi realizada e se transformou na Escola Normal da Praça da República berço de tantos professores ilustres que tornaram o ensino paulista um dos melhores do país.


Glicério, carregando o caixão, no enterro de Campos Salles em 1913

A figura de Francisco Glicério, no cenário nacional, popular que sustentou a nova República. A sua vóz autorizada evitou que Floriano Peixoto, que assumira a Presidência da Republica em substituição ao Marechal Deodoro, num momento de greve e crise, estende-se a São Paulo as medidas coercitivas utilizadas severamente em outros Estados.

Homenageando a grande figura do republicano; os vereadores dr. Salvador Leite de Camargo Penteado e Antônio Álvaro de Souza Camargo, na sessão de 25 de novembro de 1889, propuseram que se troca-se o nome da rua do Rosário para rua Francisco Glicério, que futuramente passaria a ser uma avenida. Sendo atualmente via central da cidade de Campinas, onde se encontram a maioria dos bancos.



Francisco Glicério de Cerqueira Leite faleceu no Rio de Janeiro, a 12 de abril de 1916.

No Cemitério da Saudade, em sua terra natal - Campinas, o túmulo de Francisco Glicério possui registros do projeto e da lei que deliberou a construção pela Câmara Municipal, em 1920. Está localizado na alameda principal do cemitério.

4 comentários:

Anônimo disse...

Francisco Glicério nasceu na fazenda Pau d'Alho, em Campinas?

Anônimo disse...

Era Francisco Glicério descendente de escravos?

Anônimo disse...

Quem foram os pais de Francisco Glicério? e seus irmãos? Gratos.

fcolorado disse...

Não tenho certeza se nasceu na Fazenda mas sua mãe era filha de escravos.
Era filho de Antonio Benedito Cerqueira Leite e Maria Zelinda da Conceição. Teve muitos irmãos e a maior parte muito participante na vida politica braasileira da epoca.