23 de maio de 2007

Curiosidades: Bondes

A Companhia Campineira de Carris de Ferro (CCCF), criada em 1878 e em 25 de setembro de 1879 começava o serviço de bondes de tração animal (mulas) em Campinas.


O serviço dispunha de quatro carros, sendo que em 1904 adquiriram da Companhia Viação Paulista mais alguns deles, devido à desativação daquela empresa. Em 24 de junho de 1912 é que começaram a circular em Campinas os bondes elétricos, que foram importados dos Estados Unidos, fabricados pela empresa J.G. Brill.

A empresa responsável por essa implantação foi a CCTL&F (Companhia Campineira de Tracção, Luz e Força), fundada em 1910. Ela importou 8 carros e posteriormente, em 1923, trouxe mais 8, veículos que estavam circulando na cidade estadunidense de Filadélfia.



Os bondes utilizavam uma rede elétrica de corrente contínua, com tensão de 600 volts e sua bitola era de 1000 mm, a mesma usada pelas ferrovias de maior porte, como a Mogiana.
Em 18 de março de 1917, com a inviabilidade de se manter os trens do Ramal Férreo Campineiro (RFC.), a CCTL&F decidiu comprar a empresa e desativou definitivamente o uso dos trens. Este foi, então, o fim da "cabrita", 23 anos após sua viagem inaugural, o que causou uma comoção geral nos moradores da região e de seus usuários. Porém, como alternativa, um serviço de bondes, ligando Campinas à fazenda Cabras começou a ser elaborado e para isso a empresa encomendou da J.G. Brill em 1919, o "bondão", apelido dado a ele por ser bem maior que os bondes abertos que atendiam na área urbana.

O ramal começou a ser eletrificado e teve suas bitolas aumentadas para 1000 mm já a partir de 1917; em 1919 estas obras já estavam atingindo a fazenda Cabras. A troca de bitola serviu para que esta linha se compatibilizasse com a dos bondes urbanos, da qual o bondão utilizava, em parte de seu trajeto. Um ponto importante: num país sem nenhuma tradição e tecnologia, a eletrificação do RFC se deu antes até da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, empresa muito mais rica, apesar de ter que se levar em conta as diferenças enormes de projeto de um ramal de 21 km contra uma ferrovia de grande porte.

O ponto inicial era defronte a estação da Cia. Paulista, que de lá seguia pela av. Andrade Neves, depois pelo bairro da Guanabara e finalmente atingia a zona rural, passando pela fazenda Vila Brandina, situada pouco antes da estação Engo. Cavalcante, na época uma das mais importantes fazendas de gado leiteiro da região. Nesta fazenda havia somente uma parada com plataforma simples e descoberta.

Com o fim dos trens e o início dos bondes, o ramal de Santa Maria, Dr. Lacerda, não foi aproveitado. Porém, têm-se relatos de que veículos sobre trilhos, dotados de motores a combustão interna, à gasolina, tenham se utilizado deste ramal, que manteve sua bitola em 0,60m até outubro de 1939, quando finalmente foi desativado.

Em 1928, o controle acionário da CCTL&F passou para a Electric Bond & Share (EBASCO), uma empresa estadunidense que explorou o sistema de bondes elétricos de Campinas até 1950. Contudo, o nome da CCTL&F ainda foi mantido.

Em 27 de outubro de 1950 todo a ativo da CCTL&F passa então para a CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), que explora o serviço da linha de Cabras até 1952, mas mantendo o controle sobre as linhas urbanas.

Em 18 de agosto de 1952, a CPFL resolveu passar para a Estrada de Ferro Sorocabana a exploração da antiga linha do RFC, e foi mantido assim, o serviço de bondes. Em 12 de novembro de 1952 a Sorocabana encerrou o serviço de encomendas e tráfego de mercadorias e animais que ainda mantinha ativo por um bonde duplo. Em 22 de abril de 1953 a Sorocabana tentou encerrar as atividades do ramal mas por força de protesto público desistiu da idéia.

Porém, o "bondão" terminou seus dias e acabou sendo trocado por quatro bondes de truque simples, comprados de segunda mão, da cidade de Belo Horizonte. Estes eram praticamente iguais aos da CCTL&F, mas pintados de cor verde, a cor oficial daquela empresa, diferente dos bondes vermelhos e amarelos da outra empresa. Outra diferença interessante era um enorme holofote, um bom auxiliar ao medíocre farol original, pois grande parte do seu trajeto era feito em áreas rurais, sem qualquer tipo de iluminação pública. Nesta época eram feitas três viagens diárias entre Campinas e Cabras.



No início de 1954, a CCTL&F, a esta altura uma subsidiária da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), transferiu o serviço de bondes para a prefeitura de Campinas. Todo o maquinário (28 carros) e 26 km de linhas foram vendidos para a prefeitura por Cr$ 3.000.000,00.


Em 30 de setembro de 1954 a prefeitura contrata a Companhia Campineira de Transportes Coletivos (CCTC), que já atuava na cidade com ônibus urbanos, para explorar o sistema por 10 anos. Quase cinco anos depois, em 10 de fevereiro de 1960, a Sorocabana também resolveu abandonar o serviço de seus bondes da linha de Cabras, alegando falta de lucratividade.





Com a saída da EFS do negócio, a CCTC, em 10 de fevereiro de 1960, assumiu a linha de Cabras para si, integrando-a ao seu sistema urbano de bondes, criando a linha de número 14, denominada Bairro Boa Esperança, mas usando somente os seus 7 km iniciais, que terminava nas imediações da Fazenda Vila Brandina. O bonde para Sousas, Joaquim Egídio e Cabras deixava então, definitivamente, o cenário campineiro.





A cidade crescia rapidamente, desde o início da década de 1960. A estrutura da sua linha de bondes era simples, usando linha de mão única. Por isso, haviam desvios em determinados pontos das rotas, para permitir a passagem de outro bonde da mesma linha, e assim ocupavam quase toda a largura da rua. Além disso, quase sempre trafegavam por ruas estreitas. O tráfego começou a se tornar caótico com o aumento natural da frota, e em 1964 os bondes começaram a ser aos poucos retirados das ruas, culminando com o fim das atividades em 24 de maio de 1968. A CCTC chegou a ter 28 carros da J.G.Brill, operando quatorze linhas, com 58 km de trilhos implantados.


Depois, em 5 de novembro de 1972, a prefeitura municipal inaugurou uma linha interna circular de 4 quilômetros ao redor da lagoa do Taquaral (que teve o nome alterado em 1980 para Parque Portugal – mas nome que o povo persiste em manter é de Lagoa do Taquaral. Nome este que é o do bairro onde está o parque), com quatro bondes.

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