Na entrevista de Fernando Kassab em 10 de junho de 2005, mostra um pouco da vida do homenageado.
Conheci Jamil Abrahão, pessoalmente, em 1983. Até então, apenas lia a página do maior colunista social da história de Campinas; um homem que, sem exagero algum ou favor de qualquer espécie, era uma referência absoluta no jornalismo diário. Ao longo de mais de 30 anos, seu texto - de festas badaladas, aos "furos" que ele conseguia com a exclusividade de quem desfruta da confiança de uma boa fonte - era uma espécie de bíblia a ser seguida. Não ler Jamil Abrahão significava, em grande medida, estar por fora de tudo de importante que acontecia na cidade de Campinas e em toda a região. Ele parecia estar em todos os lugares. E, quando não estava, era procurado por meio mundo - ou pelo mundo que contava, de fato -, que lhe narrava tudo em detalhes. Em sua fórmula de sucesso, o "molho" era o que fazia a diferença. Jamil era respeitadíssimo por figuras como Ibrahim Sued (O Globo) e Tavares de Miranda (Folha de S.Paulo), só para citar outros dois exemplos de sucesso do colunismo social. Eles não apenas se falavam sempre, como trocavam impressões sobre tudo. Jamil sabia cultivar uma amizade, com carinho e dedicação.
Conheci Jamil Abrahão, pessoalmente, em 1983. Até então, apenas lia a página do maior colunista social da história de Campinas; um homem que, sem exagero algum ou favor de qualquer espécie, era uma referência absoluta no jornalismo diário. Ao longo de mais de 30 anos, seu texto - de festas badaladas, aos "furos" que ele conseguia com a exclusividade de quem desfruta da confiança de uma boa fonte - era uma espécie de bíblia a ser seguida. Não ler Jamil Abrahão significava, em grande medida, estar por fora de tudo de importante que acontecia na cidade de Campinas e em toda a região. Ele parecia estar em todos os lugares. E, quando não estava, era procurado por meio mundo - ou pelo mundo que contava, de fato -, que lhe narrava tudo em detalhes. Em sua fórmula de sucesso, o "molho" era o que fazia a diferença. Jamil era respeitadíssimo por figuras como Ibrahim Sued (O Globo) e Tavares de Miranda (Folha de S.Paulo), só para citar outros dois exemplos de sucesso do colunismo social. Eles não apenas se falavam sempre, como trocavam impressões sobre tudo. Jamil sabia cultivar uma amizade, com carinho e dedicação.
Mas foi apenas em 1 de fevereiro de 1994, na publicação da minha primeira coluna em um jornal, que eu soube o quanto valia a amizade de Jamil. Sem escrever há dois anos, ele telefonou para mim na redação. Com aquela voz rouca - atavicamente, como descendente de árabes, fumava como um "profissional" -, ele elogiou as minhas primeiras notas, sugeriu um aperfeiçoamento do estilo e desejou sorte. Convidou-me para um almoço e disse que, a partir daquele momento, eu seria, ao mesmo tempo, pedra e vidraça. "Cuidado, pois as pessoas o verão como um caminho para chegar a lugares que não lhe dizem respeito. Não faça concessões, seja firme", disse. Jamil provara da cicuta e se preocupava em alertar alguém que ensaiava os primeiros passos. Culto, inteligente e com uma presença marcante, Jamil Abrahão não poderia agir de maneira diferente: era um cavalheiro consumado. Muito embora algumas pessoas o vissem como um esnobe, era simples e agradável. Mesmo quando visivelmente chateado com situações que lhe fugiam do controle, sabia manter o fair play como poucos de sua estirpe. Nossa aproximação maior se deu quando, no final de 1994, ele me convidou para um drinque em seu apartamento, na rua Dona Libânia. Cheguei pouco depois das 20h e fui recebido com a cordialidade característica do anfitrião. Nos dirigimos para uma sala de TV e ele, visivelmente emocionado, começou a falar da sua amizade com Juscelino Kubistcheck. "Éramos amigos de verdade e senti muito a sua morte", desabafou e repetiu três vezes.
Abaixo na entrega do Prêmio Andorinha em 1975.
Duas horas depois - e inúmeras e deliciosas histórias -, Jamil fez a seguinte pergunta: "Qual é prova real de que Deus existe, a prova real de que Ele está em cada um de nós, com uma marca indivisível?" Sugeri pelo menos dez respostas. Todas erradas. Jamil, tranquilo, mudou de assunto e, de vez em quando voltava à questão. Meia-noite, e nada de acertar. Pedi que ele decifrasse aquilo que já me parecia uma charada sem fim. Nada. Ele seguia contando histórias sobre um mundo distante e glamuroso. Falou-me da cantora Maysa Monjardim, da rainha Elizabeth II, do estilista Denner, da vida da Campinas dos anos 1950. Uma hora da manhã. Eu disse que precisava ir embora e ele, segurando firme as minhas mãos, olhou-me diretamente nos olhos e disparou: "A resposta está aqui", apontando as minhas impressões digitais. "Elas não se repetem em duas pessoas. Cada um tem as suas".
Acima uma de suas colunas no jornal Diário do Povo
Ao me acompanhar até a porta, olhava-me como se fosse a última vez - de fato, nos falamos por telefone mas, até sua morte, dois meses depois, não nos vimos mais. Passou as mãos - enormes mãos de descendente libanês - pelos meus cabelos, beijou-me nos dois lados da face e disse: "Faça valer suas impressões digitais, deixe uma marca só sua. E seja feliz. Você merece". Mesmo de costas, senti seu olhar me seguindo pelo corredor.
2 comentários:
inacreditável que uma pessoa que acharcava tantos em campinas possa ser homenageado por alguns da cidade... provincianismo
Agradeço sue cometários. Porém aqui o blog é isento. Quem fez a história de Campinas sempre será homenageado. Eu não posso fraudar a história de Campinas; escondendo os fatos. Tem pessoas que eu, pessoalmente não gosto; mas tenho que colocá-la no blog, pois que eu ou não fez a história de Campinas. Continue lendo o blog. Abraços.
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