10 de setembro de 2011

Personagem: Antônio da Costa Santos - 10 anos de seu falecimento

Neste décimo aniversário da morte do Toninho do PT; faço minha homenagem através de um belo texto e foto de Dayz Peixoto Fonseca, grande pesquisadora cultural e escritora. À qual agradeço o mesmo.



Toninho, como fato cultural






Quando aquele rapaz suave e discreto, entrou em minha sala, no Museu da Imagem e do Som do qual eu era coordenadora, tive a impressão de estar diante de um fato cultural inédito. Como poderia eu esperar, que Toninho da Costa Santos chegasse tão de repente para uma visita ao MIS? Nem me lembro o ano, nem sobre o que conversamos. Nem importa, hoje. Naquele momento, talvez cerca de 1980, quem poderia imaginar as implicações políticas que o aguardavam? Afinal, aquele era um momento em que estávamos atuando numa pauta cultural muito parecida: a da preservação da memória cultural da cidade.


Não parecia que o Grupo Febre Amarela tivesse caráter político no sentido estrito. Pela simples observação, tratava-se de um grupo de amigos, unidos e aguerridos. Como outros que eu já conhecia: o Cine-Clube Universitário, do qual participei, e o Grupo Vanguarda, cuja pesquisa histórica eu realizava. Os três eram constituídos de pessoas de vivência na cidade, amigos entre si, com objetivo definido. Sabendo o que queriam, usavam o discurso e as ferramentas de seu tempo.



Os jovens do Febre Amarela faziam da câmera de vídeo sua principal ferramenta, gravando entrevistas, documentando os imóveis no foco da preservação, mostrando à população suas razões. Todos, cheios de razões. Basta lembrarmos o abraço ao Lingerwood, e outras batalhas vencidas, até a criação do Condepacc, como órgão da Prefeitura de Campinas. Algo parecido com o que já havia ocorrido, com a criação do Macc, em decorrência da atuação do Grupo Vanguarda.



Lembro-me que nos anos 1990, Toninho da Costa Santos partiu para a defesa da Lagoa da Baroneza, espaço localizado ao lado da Av. Norte Sul, próximo ao clube Guarani. Procurei acompanhar essa luta mais de perto, tão atraente era o nome original daquele espaço, e tão afoita, a disposição do guerreiro em defesa da história da cidade. Então, vi o quanto Toninho se dispunha à defesa da história de sua terra. Sua ação adquiria o tom de que a cidade não poderia viver sem suas bases geográficas. Sem elas os sonhos não vingariam.



Em suma, lutava pela preservação da paisagem original. Estava acompanhando o caso pela imprensa, até que, certo dia, o toque mágico na tecla do rádio, trazia-me a notícia sobre uma reunião que estava sendo realizada na Câmara Municipal, em que os vereadores, com representantes de empresários que desejavam construir naquele local, um shopping center, discutiam o assunto. A notícia acrescentava que o Antônio da Costa Santos pedia para participar dessa reunião, postulando a preservação desse espaço como patrimônio histórico. De imediato, fui à Câmara presenciar o embate.



Ao chegar, a Vereadora Ester Viana, saindo da sala de reuniões, confirmou que o Toninho já estava com os vereadores e outras pessoas. Assunto polêmico pois envolvia grandes negócios. Tanto que ao sair da reunião, Toninho foi assediado pelos repórteres para que informasse sobre os termos da discussão. E eu, ali, observadora privilegiada, lembrei-me da câmera fotográfica em minha bolsa. Hoje, nem saberia identificar na foto, os jornalistas. Mas o Toninho, com a expressão séria em seu rosto de menino, era a imagem do defensor da história de sua cidade.



O tempo passou, e o herói se tornou político. Como todo sonhador, não teve tempo de estabelecer os limites entre sonhos e realidade.



Assim, entristecida, na manhã daquele 11 de setembro de 2001, tentei rever o semblante do suave e discreto herói. Sem conseguir ultrapassar a barreira da multidão que se acotovelava para seu adeus, retornei. No rádio, a notícia da tragédia em Nova York. Olhei para o alto para apaziguar meu olhar no azul do céu e vislumbrei a florada amarela dos ipês da Escola Normal. Cada florada dos ipês amarelos me faz lembrar de Toninho, e do dia em que a cidade de Campinas viveu mais uma de suas tragédias culturais.

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