Num oferecimento de nosso cronista da história e cotidiano campineiro, Moacyr Castro. Segue crônica.
No tempo das andorinhas e da águia
Em 1910, Ruy Barbosa, o “Águia de Haia”, visitou Campinas. Hospedou-se com a mulher, Maria Augusta, em casa de seu primo, o barão Geraldo de Rezende.
O bibliófilo campineiro João Falchi Trinca presenteou o Centro de Memória da Unicamp com uma fotografia que registra a reunião da família do barão.
Estão lá: Geraldo (neto do barão), Marieta (filha), Antônio Benedito de Castro Mendes, Ruy, Amélia (filha), Maria Amélia (neta), Maria Augusta, Cecília (neta), JoãoLopes de Assis Martins (genro) com João Batista (neto, nocolo), Elisa (filha), Luiz Gonzaga (neto) e Estevão (outro neto). É bom lembrar que a baronesa falecera em 1902 e em 1907, o barão se matou: tomou veneno, desgostoso com a perda do patrimônio que construíra nestas campinas. Esse documento é precioso.
Foi nessa visita à cidade que Ruy Barbosa escreveu o poema “Terra das Andorinhas’, num fim de tarde, sentado no Largo das Andorinhas, diante da EscolaNormal, observando o espetáculo fantástico da chegada delas ao abrigo do demolido Mercado de Hortaliças.
Leiam que beleza:
“Pelo límpido azul já sem sol, antes que se lhe esvaia de todo o ouro dos seus átomos de luz, mas quando o crepúsculo entra a desmaiar do seu brilho a safira celeste, um ponto retinto, perdido nos longes mais remotos, se acentua em negro na cúpula do firmamento, lá, bem no alto, bem de cima, como se a ponta de uma seta, desfechada perpendicularmente do além, varasse ali a redondeza anilada. Era um; e, logo após, já são muitos, já vêm surdindo inumeráveis, já parecem infinitos; já se cruzam, e serecruzam; já se encontram e circulam; já se condensam e escurecem. Eram um grupo, e já formam um bando, já vêm crescendo em longas revoadas, já refervem em enxames e enxames, já se estendem numa vasta nuvem agitada. Toldaram o céu, encheram o ar, vêm-nos ondeando sobre as cabeças. Agora, afinal, como os movimentos de uma grande vaga sombria ponteada de branco, a librar-se entre a terra e a imensidade, baixa a massa inquieta, rumorejante, oscilando, flutuando, rasga-se na coroa das palmeiras, açoita os fios telegráficos, resvala pelos tetos do casario, e ao cabo arfando, e remoinhando, turbilhonando e restrugindo, com o estrépito de uma cascata argentina, de uma cachoeira de cristais que se despedaçam, chilreada imensa de vozes egrasnidos às dezenas de milhares, pendem, mergulham, e desaparecem, numa imensa curva borbulhante, por sob o largo telheiro abandonado, que essa aérea multidão erradia elegeu entre nós para abrigo do seu descanso nas cálidas noites deverão.”
Hoje, se Ruy se sentasse na mesma praça, no mesmo banco, no mesmo jardim e olhasse na mesma direção, em vez de andorinhas, veria os “Abutres de Campinas”.
No tempo das andorinhas e da águia
Em 1910, Ruy Barbosa, o “Águia de Haia”, visitou Campinas. Hospedou-se com a mulher, Maria Augusta, em casa de seu primo, o barão Geraldo de Rezende.
O bibliófilo campineiro João Falchi Trinca presenteou o Centro de Memória da Unicamp com uma fotografia que registra a reunião da família do barão.
Estão lá: Geraldo (neto do barão), Marieta (filha), Antônio Benedito de Castro Mendes, Ruy, Amélia (filha), Maria Amélia (neta), Maria Augusta, Cecília (neta), JoãoLopes de Assis Martins (genro) com João Batista (neto, nocolo), Elisa (filha), Luiz Gonzaga (neto) e Estevão (outro neto). É bom lembrar que a baronesa falecera em 1902 e em 1907, o barão se matou: tomou veneno, desgostoso com a perda do patrimônio que construíra nestas campinas. Esse documento é precioso.
Foi nessa visita à cidade que Ruy Barbosa escreveu o poema “Terra das Andorinhas’, num fim de tarde, sentado no Largo das Andorinhas, diante da EscolaNormal, observando o espetáculo fantástico da chegada delas ao abrigo do demolido Mercado de Hortaliças.
Leiam que beleza:
“Pelo límpido azul já sem sol, antes que se lhe esvaia de todo o ouro dos seus átomos de luz, mas quando o crepúsculo entra a desmaiar do seu brilho a safira celeste, um ponto retinto, perdido nos longes mais remotos, se acentua em negro na cúpula do firmamento, lá, bem no alto, bem de cima, como se a ponta de uma seta, desfechada perpendicularmente do além, varasse ali a redondeza anilada. Era um; e, logo após, já são muitos, já vêm surdindo inumeráveis, já parecem infinitos; já se cruzam, e serecruzam; já se encontram e circulam; já se condensam e escurecem. Eram um grupo, e já formam um bando, já vêm crescendo em longas revoadas, já refervem em enxames e enxames, já se estendem numa vasta nuvem agitada. Toldaram o céu, encheram o ar, vêm-nos ondeando sobre as cabeças. Agora, afinal, como os movimentos de uma grande vaga sombria ponteada de branco, a librar-se entre a terra e a imensidade, baixa a massa inquieta, rumorejante, oscilando, flutuando, rasga-se na coroa das palmeiras, açoita os fios telegráficos, resvala pelos tetos do casario, e ao cabo arfando, e remoinhando, turbilhonando e restrugindo, com o estrépito de uma cascata argentina, de uma cachoeira de cristais que se despedaçam, chilreada imensa de vozes egrasnidos às dezenas de milhares, pendem, mergulham, e desaparecem, numa imensa curva borbulhante, por sob o largo telheiro abandonado, que essa aérea multidão erradia elegeu entre nós para abrigo do seu descanso nas cálidas noites deverão.”
Hoje, se Ruy se sentasse na mesma praça, no mesmo banco, no mesmo jardim e olhasse na mesma direção, em vez de andorinhas, veria os “Abutres de Campinas”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário