20 de janeiro de 2007

Curiosidades: Meados e fins do século XIX e 1o. quartil do século XX

Resgatando do passado, aquilo de bom que saiu na imprensa, quanto a história de Campinas. Adaptando-o para o atual linguajar, incrementando-o com fotos da época mencionada no artigo, além da correção ortográfica necessária. Temos pois um artigo publicado pelo saudoso historiador campineiro José de Castro Mendes, em 31/10/1968 no jornal Correio Popular, sob título “Influência francesa no comércio local”. Este mostra o quanto elegante era a Campinas de meados de 1800 até 1º. quartil de 1900; mais exatamente no que tange aos usos e costumes. Vamos ao artigo:

Artigo publicado em 1874.

“Não deixa de ser interessante a notória influência francesa que predominou no comércio local, a partir dos meados do século XIX.

Percorrendo velhas coleções de jornais, deparamos freqüentemente com anúncios curiosos que nos falam dessa preferência e simpatia, através do batismo de inúmeras casas com nomes afrancesados.

Modistas, joalheiros, alfaiates, cabeleireiros, hotéis, etc., levantavam suas taboletas de reclame nas quais indicavam a arte de bem comer e de vestir, moldadas pelo reconhecido bom gosto e requintes provenientes daquele país.

E na cidade pequena, de casas baixas, de largos berais, que deitavam sombras nas ruas estreitas de ares provincianos, isso, naturalmente, causava a melhor impressão, nivelando-a aos grandes centros onde a cultura francesa gozava de larga aceitação.

Na rua Barão de Jaguara a joalheria J. Gerin.

Em 1880, abriam suas portas o Restaurante Des Pirinés, conceituadíssimo pela sua cozinha a “La carte”. Outra casa do mesmo gênero, era o Restaurant de France, que anunciava em francês pelos jornais as suas especialidades. “La Parisiense”, fabricava viaturas elegantes, caleças (do Francês. Calèche - carro leve de quatro rodas e capota dobrável) e coupês nos tipos mais usados em Paris.

Localizada à rua do Comércio (Dr. Quirino), centro das mais importantes casas comerciais da época, “La Mode Parisiene” era muito procurada pelas senhoras elegantes, que ali encontravam completo sortimento de fazendas e adornos. Uma oficina de costuras muito conhecida era “Au Printemps”, com especialidade em roupas para crianças.
A família de Barão Geraldo de Rezende posando para foto no pátio da Fazenda Santa Genebra, veja a elegância das mulheres na foto.

Chapéus, flôres, fitas e enfeites variados, podiam ser encontrados nas casas “La Marguerite”, “Mme. Rase”, ou na “Vile de Paris”, no Largo da Matriz Nova (Catedral). Para os cavalheiros que desejavam aprimorado corte de cabelos, barba e bigodes tratados a capricho, com fricções de perfumaria estrangeira, não havia melhor do que o Salon de Paris, situado na rua Direita (Barão de Jaguara) , “Cabrier & Cia.”, era a firma proprietária da Alfaiataria Francesa, à rua do Rosário (hoje av. Francisco Glicério), casa frequentada pelos elegantes da cidade.

Muito procurada também era a Chapelaria Francesa, de Mme. Renriete Bhermann, na praça da Matriz Velha (Igreja do Carmo). Escovas, pentes, leques e tranças vendiam-se no “Ao Chic Parisien”, sempre em dia com as últimas novidades no gênero.

Outro restaurante apreciadíssimo pela sua mesa requintada, era o “La Renaiscense”, localizado à rua Regente Feijó. No antigo prédio que existiu onde atualmente se encontra o edifício Kaufmann, durante vários anos funcionou o Hotel de França de Ferdinand Domingos, casa de primeira ordem que mantinha secções de restaurante, bar, sorveteria, confeitaria, salão de chá, fábricas de doces finos, encarregando-se também de pensões a domicílio e serviços completos para casamentos e batizados.

A loja Au Monde Elegant, ficava na confluência das rua Barão de Jaguara com a rua César Bierrenbach.

“Weill & Freres” forneciam fazendas, plumas, flôres e bordados de importação em larga escala. Tornou-se famosa pelas suas múltiplas atividades a casa “Ao Monde Elegant”, de Alfredo Genoud, mais tarde denominada Casa Genoud, com secções de livraria, papelaria, armarinhos, brinquedos, músicas e instrumentos, fábrica de caixas de papelão, perfumaria e tipografia. Um dos mais conhecidos estabelecimentos de moda que a cidade contava no seu importante comércio era a “Notre Dame de Paris”, de proprietários portugueses, localizada à rua dr. Quirino, canto do tradicional Beco do Inferno, hoje desaparecido.

A Casa Genoud foi construída no local onde havia a Au Monde Elegant.

Além do grande e primoroso estoque de fazendas finas, casimiras, lã e sedas importadas dos mais afamados produtores europeus, esta casa, freqüentada pela alta sociedade campineira, mantinha atelier de costura sob a direção de hábil contra-mestra francesa. Dali saiam finíssimos enxovais para noivas endinheiradas que exigiam o que havia de melhor no ramo.

Outro estabelecimento de hospedagem bastante conhecido era o Hotel de Paris, de Pierre Lambourget, na rua do Bom Jesus (hoje av. Campos Salles).

Relógios e jóias finas, encontravam-se na casa “Ao Perret”, à rua Direita. Roupas feitas para homens e crianças forneciam Renri Bloch & Freres. Modas para senhoras em geral, chapéus, rendas, fitas, plumas, fivelas, alfinetes fantasia e adornos de penas vendiam-se na loja “La Mode Parisiene”, à rua do Comércio (hoje Dr. Quirino).
Veja a elegância das mulheres e homens pelas ruas de Campinas, no caso a rua General Osório em 1915.

Quanta seda fina, rendas primorosas, leques deslumbrantes e bijouterias de muito gosto proveniente de Paris, Lion e Marseille, não despertou a vaidade de nossas vovós então moças elegantíssimas, cujos vestidos eram talhados sob modelos do Miroir Des Dames ou de La Mode Illustrée. As grandes, mangas folhudas, os corpetes ajustados, e as amplas saias compridas até os pés, certamente exigiam remates e enfeites de qualidade que a França exportava com os requintes de seu artesanato até hoje insuperável.

E Campinas estava a altura de satisfazer todos os caprichos da moda masculina e feminina através de casas especializadas e importadoras sempre em dia com os últimos lançamentos da França.”

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