Laudelina de Campos Melo
Nasceu em 12 de outubro de 1904, em Poços de caldas, MG. Seus pais eram negros alforriados pela Lei do Ventre Livre, em 1871.
Laudelina, aos 12 anos, perdeu o pai de forma trágica. Este trabalhava no corte de madeira, no Paraná, e foi atingido por uma tora que havia sido cortada por um de seus irmãos. Laudelina teve então que abandonar os estudos, ainda na escola primária, para assumir o cuidado dos cinco irmãos menores, para que sua mãe fosse trabalhar em um hotel.
Foi para Santos aos 20 anos, onde se tornou ativista da Frente Negra Brasileira. Passou a atuar em movimentos populares e sua militância ganhou um peso político e reivindicatório, com sua ligação ao Partido Comunista Brasileiro.
Adolescente, auxiliava a mãe na confecção de doces e compotas caseiras, para serem vendidos na cidade além de atuar em organizações de mulheres negras e foi presidente do Clube 13 de Maio, que promovia atividades recreativas e políticas. Aos 20 anos, passou a ser empregada doméstica, o que a levou a mudar-se para Santos, São Paulo, onde casou-se e teve um filho.
Em Santos passou a integrar um grupo chamado Frente Negra que abrigava várias entidades com propósitos de ampliação política e cultural para a população negra. Criou uma Associação das Empregadas Domésticas (1936), fechada seis anos depois (1942), quando atividades políticas foram proibidas em função do Estado Novo.
Simultaneamente instituições parecidas foram criadas na cidade de São Paulo, sob a coordenação do professor Geraldo de Campos Oliveira, presidente do Clube Cultural Recreativo do Negro e membro do partido Libertador, e outra em Santos, sob a responsabilidade de Laudelina. Durante o Governo Vargas, as organizações de trabalhadores foram proibidas.
Só após a abertura política a associação retornou as atividades, tendo Laudelina a frente como presidente. Em 1948, foi convidada pela família para a qual trabalhava como governanta para ser gerente do hotel fazenda que tinham em Mogi das Cruzes, São Paulo, lá permaneceu por três anos.
Com a morte de sua patroa, mudou-se para Campinas, onde se integrou ao movimento negro da cidade e denunciou que as empregadas negras eram preteridas, protestando contra os anúncios racistas do jornal Correio Popular. Fundou a Associação Profissional Beneficente das Empregadas Domésticas (1961) para defesa dos direitos das empregadas domésticas e intermediação de conflitos entre patroas e empregadas, uma vez que não havia legislação trabalhista para a categoria. Cerca de 1200 trabalhadoras domésticas compareceram ao ato de inauguração da associação, em 18 de maio de 1961.
Integrou-se então ao Movimento Negro de Campinas. Em 1961, obteve o apoio do Sindicato da Construção Civil de Campinas para fundar, em suas dependências, a associação de empregadas domésticas de Campinas.
Sua atuação foi exemplo para que fossem criadas associações no Rio de Janeiro (1962) e em São Paulo (1963) e que deu origem ao Sindicato dos Trabalhadores Domésticos (1988). atuou nas universidades brasileiras por mais de 30 anos, até seu falecimento. Em seus últimos dias, foi eleita, por reconhecimento de sua competência, Chefe do Departamento de Sociologia, da Pontifícia Universidade Católica - PUC, Rio de Janeiro.
Com o golpe militar de 1964, a associação deveria ser fechada, para que isso não acontecesse, Laudelina aceitou abrigá-la na União Democrática Nacional - UDN. Em 1968 adoeceu durante o processo de sucessão da entidade, o qual levou a dissolução da entidade, levando-a a se desvincular do movimento de empregadas domésticas. Retomou a direção da entidade em 1982, procurada por suas antigas companheiras.
Faleceu em Campinas como um símbolo da luta por tornar visível o trabalho doméstico, denunciar sua desvalorização e buscar conquistar direitos trabalhistas e dignidade, explicitando a situação de profunda pobreza, racismo e machismo na qual vivem milhares de mulheres negras em todo o país.
Morreu em 22 de maio de 1991.
Nenhum comentário:
Postar um comentário